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Os empecilhos da legalização: qual a relação da Cannabis com a Tesla e os carros elétricos?

  • 11 de jun. de 2022
  • 3 min de leitura

Publicação da colunista Cintia Vernalha para a Sechat de 09/06/2022

A Cannabis foi proibida por menos de 1% da sua história e, mesmo por tão pouco tempo, os passos para a uma legalização ampla ainda são lentos e complexos.

E por que é tão difícil para nós, como sociedade, endereçarmos esse assunto?


O primeiro motivo, e o mais falado, é o preconceito. Muitas das pessoas que poderiam colaborar com a revisão e a alteração das leis cresceram em uma época que a Cannabis era demonizada. A planta não era vista apenas como uma substância proibida, mas que poderia ocasionar danos profundos à sociedade e, quem a consumisse, estava violando o sistema que dava estabilidade e segurança aos seus membros. Alterar essa narrativa não é fácil, tampouco rápido. As pessoas levam tempo para reavaliar crenças e, muito provavelmente, a cannabis precisará de gerações para que o estigma realmente desapareça.


O segundo motivo é o fato de a cannabis ser um produto extremamente complexo. A cannabis pode ser medicamento, suplemento, fitoterápico, estimulante ou calmante, produto para doenças complexas ou produto para o bem estar, além de poder ser identificada como uma commodity ou um produto único, dependendo da sua composição. Embora sejam exatamente essas diferentes classificações que tornam a Cannabis tão especial e com o poder de impactar positivamente diversas pessoas e setores da sociedade, que fica difícil de classificá-la em uma categoria legislativa tradicional. A legalização da cannabis impactará diversas camadas da nossa sociedade e vários setores serão afetados. Isso torna a construção de leis complexa e lenta.


O terceiro motivo é o fato de a cannabis não ser apenas um produto. A cannabis foi criminalizada como forma de controlar as classes menos favorecidas, que a consumiam durante a proibição do álcool nos EUA. Durante o proibicionismo, fez parte de diversos movimentos que a utilizaram como símbolo de protesto contra guerras, poder de grandes corporações e, principalmente, desigualdade social. Não tem como desvincular a cannabis do seu histórico e da sua luta. Um avanço da legislação deverá incluir uma reparação com todos aqueles que foram prejudicados pela guerra às drogas e isso significa construir políticas que realmente permitam que essas pessoas participem dessa indústria milionária que está surgindo. Mas a quem interessa construir essas políticas e reconhecer erros do passado?


Com isso, chegamos ao último motivo: existem diversos grupos a quem a legalização simplesmente não interessa e que lutam para atrasá-la. Já vimos esse cenário em outras indústrias. A Tesla só foi seguida depois de anos lutando e mostrando o quanto os carros elétricos poderiam colaborar contra a dependência do petróleo. É difícil acreditar que outras empresas não tinham, há vários anos, a mesma tecnologia que a Tesla para lançar carros elétricos. A verdade é que essa quebra de paradigma não interessava a grandes grupos políticos e empresariais. O lobby – e o dinheiro – da indústria do petróleo era muito maior e o comodismo vencia o dever de inovar. Mas a hora chegou, e hoje a Tesla vale mais do que as maiores empresas automotivas juntas e todos estão correndo atrás do prejuízo e lançando os seus próprios carros elétricos.


O momento da Cannabis também irá chegar. Mesmo com toda a dificuldade, a indústria

da Cannabis já é uma realidade no Brasil e está cada vez mais forte no mundo. Inúmeras pessoas já utilizam os diversos produtos feitos com essa planta e, dificilmente, voltarão a consumir produtos químicos e sinteticamente elaborados. Países, que já avançaram na legalização, mostram números positivos do impacto social dessa nova indústria, além de dados de criação de empregos e geração de impostos. Está cada vez mais difícil ignorar esses números. Pesquisas científicas já começaram a comprovar o que os diversos usuários já sabem: a cannabis pode ser uma grande aliada da saúde. A mídia já deixou de mostrar a cannabis em páginas policiais, para começar a posicioná-la em cadernos de inovação, ciência e negócios.

É questão de tempo agora. Com um pouco de paciência e educação a cannabis conquistará também o campo político.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e não correspondem, necessariamente, à posição do Sechat.



 
 
 

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